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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Pedro Simon: "Caso Erenice me levou a apoiar Marina"



Claudio Leal/Terra Magazine
Vejo a Marina como uma pessoa muito espiritualizada, diz Pedro Simon. O senador gaúcho decidiu apoiar a candidata do PV à presidência. Precisamos ter ...
"Vejo a Marina como uma pessoa muito espiritualizada", diz Pedro Simon. O senador gaúcho decidiu apoiar a candidata do PV à presidência. "Precisamos ter um segundo turno"
Claudio Leal
De Porto Alegre

O senador Pedro Simon ainda se refere ao seu partido, o PMDB, com a mesma sigla dos anos de resistência à ditadura: MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Ao 80 anos, essa opção vernacular também realça sua dissidência com o núcleo de peemedebistas que aderiu ao governo Lula, depois de protagonizar a era Fernando Henrique Cardoso no Congresso. Apesar das sereias da candidata Dilma Rousseff (PT), que o cortejou em discursos e telefonemas, Simon decidiu, na última semana, distanciar-se mais uma vez da cúpula e apoiar Marina Silva (PV) para a presidência da República.
Nesta entrevista especial a Terra Magazine, concedida em seu apartamento, em Porto Alegre (RS), o senador esclarece o voto em Marina e renova a militância do segundo turno. O escândalo do tráfico de influência na Casa Civil, envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra, substituta de Dilma, motivou-o a abandonar a reservada simpatia com a candidata petista, a qual sempre destaca a importância do líder gaúcho na sua formação política.
- O que me levou, me deixou muito angustiado, foi o que aconteceu na Casa Civil... Eu imaginava que no tempo do primeiro chefe da Casa Civil, José Dirceu, era uma coisa e essas coisas tinham desaparecido. Mas não tinham desaparecido. Tinham que ser mais esclarecidas. E a Dilma é uma figura fora do comum na história do Brasil.
Sem deixar de destacar a biografia de Dilma, Simon explicita as suas razões para votar em Marina:
- Vejo a Marina, primeiro, como uma pessoa muito espiritualizada, com sentimentos muito profundos, de fé. Se ganhar, ela alega que não fez compromisso com nenhum partido, vai governar com o Brasil. Vai escolher lá no PT, no PSDB... Ela até cita alguns nomes do governo Lula, que são de primeira grandeza.
Em 24 de setembro, o dia em que a modelo Gisele Bündchen declarou apoio a Marina, o senador manifestou sua decisão à candidata do PV, em Porto Alegre. Cercado por jornalistas, na sala de sua casa, reiterou o desejo de que as eleições, a presidencial e a do Rio Grande do Sul, sejam decididas no segundo turno.
- A campanha no Brasil, com esses partidos de um minuto, dez partidos, é uma confusão... É impossível o eleitor ter uma análise fixa da questão. Eu acho que o segundo turno é o que nós temos de mais positivo na eleição do Brasil - analisa.
Simon critica "a soberba" de Lula, onipresente na sucessão. O senador se surpreendeu com a pesquisa que apontou o presidente como mais confiável do que Deus.
- Ele vai querer discutir com o Homem lá de cima. Os caras ficaram com medo de combater o Lula. O problema do Lula, hoje, com toda a sinceridade, o grande problema, é o pecado capital: a soberba.
Apesar de reconhecer as conquistas econômicas do petista, ele critica o presidente por não ter sido firme na punição do ex-subchefe da Casa Civil, Waldomiro Diniz, homem da confiança do ex-ministro José Dirceu, acusado de extorsão em 2004. Para Simon, aquele foi um momento que definiria o perfil ético do governo.
Desde 1990 no Senado, o peemedebista confessa estar "muito abatido" com o declínio da vida parlamentar e do nível do Congresso. Vincula o desânimo à passagem do tempo e à mediocridade das relações do Executivo com o Legislativo.
- Vim de uma época em que o meu grupo, que almoçava e jantava, era o Dr. Ulysses, o Dr. Tancredo, Covas, Montoro, Teotônio, Richa... Era esse grupo. Hoje eu almoço em casa e janto em casa. É muito raro. Eu vou conversar com quem?
Confira a íntegra da entrevista com Pedro Simon.
Terra Magazine - O que lhe motivou a apoiar a candidatura de Marina Silva à presidência, apesar de seu partido, o PMDB, integrar a chapa de Dilma Rousseff?
Pedro Simon - Acho que é muito importante nós termos segundo turno. A campanha no Brasil, com esses partidos de um minuto, dez partidos, é uma confusão. Campanha pra presidente, pra governador, pra senador, pra deputado federal, pra deputado estadual... É uma confusão. É impossível o eleitor ter uma análise fixa da questão. Eu acho que o segundo turno é o que nós temos de mais positivo na eleição do Brasil. Imita um pouco, inclusive, os Estados Unidos. Lá a eleição se define em quatro debates entre os dois candidatos, um a um, frente a frente. Segundo turno é isso. Termina o primeiro turno, dez dias de descanso pra baixar a bola.
E vinte dias de campanha intensa?
Durante esses vinte dias, as empresas de televisão fazem dois ou três debates, um a um. Aí vai se saber quem é quem. O que me levou (a apoiar Marina), me deixou muito angustiado, foi o que aconteceu na Casa Civil.

O caso Erenice Guerra?
É. O caso Erenice me surpreendeu. Toda a análise que eu fazia... Foi um fato novo, que me abalou. O esforço para haver um segundo turno é muito importante para o Brasil.

O caso Erenice alterou a imagem que o senhor tinha de Dilma?
No contexto geral. Eu imaginava que no tempo do primeiro chefe da Casa Civil, José Dirceu, era uma coisa e essas coisas tinham desaparecido. Mas não tinham desaparecido. Tinham que ser mais esclarecidas.  E a Dilma é uma figura fora do comum na história do Brasil. Não apenas a sua biografia, a sua história, mas o que ela representa, no meio dessa radicalização do PT e dessas manifestações meio exageradas do Lula, com relação à participação dos partidos em funções que até então eram reservadas para os técnicos, tipo a Petrobras... Hoje são loteadas para partidos políticos. E o Serra, no tempo de Fernando (Henrique Cardoso), foi mais ou menos igual. A Marina se propõe a fazer um governo nacional, chamando os grandes nomes da sociedade brasileira.

Marina rompeu com o governo Lula, saiu do PT, distanciou-se após o choque de visão sobre o meio ambiente. Neste momento, como o senhor projeta a trajetória dela?
Vejo a Marina, primeiro, como uma pessoa muito espiritualizada, com sentimentos muito profundos, de fé. Se ganhar, ela alega que não fez compromisso com nenhum partido, vai governar com o Brasil. Vai escolher lá no PT, no PSDB... Ela até cita alguns nomes do governo Lula, que são de primeira grandeza. Então, eu acho que isso é importante para ter o segundo turno. E, por outro lado, aqui no Rio Grande do Sul. É um absurdo o Rio Grande do Sul não ter segundo turno. As coisas estão se configurando de maneira tal, os programas de televisão (do PT) tão bem-feitos, que de repente não tem segundo turno...

Incomoda ao senhor a influência do marketing na política? Artificializa os candidatos?
Olhe, o meu projeto de lei termina com isso. Eu tenho um projeto de lei que diz que os programas de televisão tinham que ser ao vivo. Não pode ser. O maior exemplo que nós temos disso é o Lula. O personagem principal da primeira vitória não foi o Lula, mas o Duda Mendonça. Se você olhar os jornais da época, vai ver que as manchetes maiores eram do Duda Mendonça.  Ele dizia: "Agora eu vou fazer o Lulinha Paz e Amor".

Alterou a imagem física...
"Não, essa barba aí eu vou tirar...". O Lula tinha que perder tantos quilos. Chamou-se a figurinista e tal. Aquela figura das três primeiras eleições, que Lula perdeu, e usava roupa de sindicato pra gravar o programa, desapareceu. Ele (Duda) dizia até o que Lula ia falar.

Isso não se repetiu, este ano, com Dilma?
Acho que não. Nesse sentido, não, porque a Dilma está dizendo o que sempre disse. O que pode ter acontecido, e eu acho normal, é pintar o cabelo de outra cor... Ela estava de óculos e agora está de lente de contato. Estou falando que, como regra, no Brasil, esses programas de televisão decidem uma eleição e não tem nada que ver com o candidato. Nos Estados Unidos, quem decide a eleição são os quatro debates no final da campanha. Já mudou a eleição. Kennedy ganhou nos debates. O vice-presidente democrata estava com a vitória, e Bush ganhou. Mas a vitória dele era tão certa, tão tranquila, que a orientação que deram pra ele, foi: "Você já está eleito. Tem que ir pra esse programa pra não perder ponto". Guerra do Iraque. "Pois é, vamos ver...". Ele foi tão frouxo, que o pessoal dizia: "Prefiro o Bush". Porque o Bush respondia com objetividade.

Agora, o Obama ganhou na televisão. Mas lá é ao vivo. Eu defendo muito isso. No segundo turno, nesses dez minutos, quem tem que falar é o candidato. Porque tem dois candidatos: um fala e o outro responde. Se não se fala de determinado assunto, o outro vai cobrar. E o povo vai ficar sabendo: ele não respondeu. No Rio Grande do Sul, eu acho uma desgraça nós não termos um debate do (José) Fogaça com o Tarso (Genro), uma grande discussão. Não está havendo nada.
O debate foi pífio?
O Tarso está fazendo um programa triunfalista, onde quem aparece mais é o Lula e a Dilma. Eu acho que um segundo turno Fogaça e Tarso muda de questão.

Ocorre um fenômeno nacional, que é a exposição excessiva de Lula nas campanhas dos candidatos, mesmo os de oposição, pra tentar se vincular à popularidade do presidente da República. O próprio José Serra utilizou Lula no programa na TV. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou a "mistificação" de Lula, que teria prejudicado a oposição. O senhor vê isso também?
Eu vejo. Vejo que o Serra insistiu muito, muito, em mostrar que ele era o pós-Lula e não o anti-Lula. E o PT fez questão de dizer que o sucedâneo do Lula é a Dilma, e o Serra é o anti-Lula. Realmente é discutível, porque o Lula está com 80% (de popularidade). Outro dia, eu estava numa reunião com os católicos parlamentares e disse: "Olha, nós vamos ter que conversar, porque na última pesquisa perguntaram: 'Você acredita em Deus?`. 58% disse que acreditavam e 48% que não. E o Lula? 80% acharam espetacular".

É Lula no céu e Deus na terra?
É. Eu disse: "Vamos lá, porque com essas pesquisas, depois das eleições, Lula vai começar a olhar lá pra cima". Ele vai querer discutir com o Homem lá de cima. Os caras ficaram com medo de combater o Lula. O problema do Lula, hoje, com toda a sinceridade, o grande problema, é o pecado capital: a soberba.

Ele tem extrapolado?
É a soberba. Ele está atingindo índices inauditos de coisas fantásticas. Por exemplo, foi um grande dia o lance da Petrobras (capitalização). Ele estava: "A maior empresa do mundo... quem diria que eu, dentro do capitalismo, fiz o maior negócio capitalista de toda história..." Essa soberba do Lula pode prejudicar. O sentido que eu quero é esse. Repare que tem 50% que não sabe em quem vai votar. Isto é que me leva a me dirigir a essas pessoas: se ainda não tem decisão, tente levar pro segundo turno.

Mas a divulgação contínua de pesquisas não cria um clima desfavorável ao segundo turno e prejudica o debate?
Você vai lá nos Estados Unidos e o voto nem é obrigatório. Em segundo lugar, a influência das pesquisas é muita relativa. Os setores que fazem pesquisa são completamente independentes. Você pega o jornal aqui, a universidade lá, não tem nada que ver. E aqui as pesquisas são assim. Tem uma história que diz que as pesquisas, quando vai se aproximando (a eleição), elas vão começando a se aproximar do que vai acontecer (risos). Mas quando chega no final...

Para o senhor, causa espanto Dilma vencer no primeiro turno, na estréia eleitoral dela? O senhor encara isso de uma forma negativa?
Não. Nesse aspecto, não. Ela tem todas as condições. Não estou fazendo essa análise a nível pessoal. Agora, pra ganhar no primeiro turno, vai ser uma maravilha... Ela vai ganhar numa eleição que só vai estar o emocional e a figura do Lula. Lula é Deus. Aqui em Porto Alegre estão fazendo um boneco com a figura do Lula em tamanho natural (risos) Você passa em frente e aperta a mão, pensando que é o próprio Lula...

Está virando uma idolatria?
É isso aí. Está nesse caminho. Está nesse caminho.

O que senhor indica como acertos de Lula no poder?
Fez muita coisa boa, não tem dúvida. A economia do Brasil está crescendo, hoje o País está rumo a uma posição econômica de primeira grandeza, um País respeitável, um nome de credibilidade internacional. Não tem o que discutir.

Teve a oportunidade de transmitir essas críticas a Lula?
Da tribuna. À parte a ética e à parte as coisas que o Fernando Henrique entregou, o Lula entregou mais ainda. Aquele PT que parecia uma coisa fantástica... Nos oito anos de oposição não houve partido no mundo que fez mais oposição do que o PT. A oposição do PT ia a tal ponto que, se dependesse do PT, Tancredo não era o presidente, o presidente era o Maluf. Se dependesse do PT, não havia Constituição, eles não votaram a Constituição. Não votaram o Plano Real. Mas chegou no governo e se acomodaram. Sou amigo do Lula. Ele me convidou, inclusive, a participar do governo dele. No primeiro mandato, eu votei no Lula, trabalhei por ele. Até o momento em que, exercendo uma posição simpática ao Lula no Senado, apareceu o caso Waldomiro (Diniz).

Fui lá no Palácio dizer pra ele: "Olha, Lula, aqui é hora de marcar seu governo. É caso pra demissão. Recebendo dinheiro, botando no bolso, dizendo as percentagens de quanto é, de quanto vale... Demite o cara e marque o governo". Não demitiu, manteve o cara. Eu queria pedir a CPI. Ele e o (José) Sarney não deixaram. Tive que entrar no Supremo e ganhamos no Supremo. Só que isso levou um ano. E nesse ano veio o mensalão, veio tudo... Se ele tivesse, naquela hora, punido o Waldomiro, dito "o meu governo é assim", não tinha o mensalão, não tinha nada. Mas liberou ali, liberou geral...
Como o senhor avalia a aproximação de Lula com oligarquias regionais, como Sarney, Collor? Isso fere a história do PT?
Creio que sim. Na verdade, o PT virou um partido pragmático, que se alia com quem for. Se aliou com Collor e Renan, em Alagoas, porque facilita a vida dele. Se uniu ao Jader (Barbalho) porque o Jader, no Pará, decide a eleição. Se aliou ao Sarney porque Sarney tem voto no Senado. Eminentemente pragmático. Em nome da "governabilidade", tudo vale.

O PT se assemelhou, nacionalmente, ao PMDB?
Não é que se assemelhou ao MDB. Porque o MDB nunca foi governo. Tancredo morreu, assumiu o Sarney. E Sarney nunca foi o governo do MDB. Sarney foi o Sarney.

Uma Arena camuflada?
O que aconteceu foi o seguinte: o Fernando Henrique quando assumiu, pegou o MDB pra governabilidade. E pegou um grupo xis do MDB. Em cima desse grupo xis, o PT fez horrores na oposição. Quando Lula assumiu, pegou o mesmo grupo. Os mesmos! Os que estavam com Fernando Henrique, estão com Lula.

Quando o senhor situa o declínio do projeto nacional do PMDB? Foi na derrota de Ulysses Guimarães, em 1989? Aquela derrota foi determinante?
Aquela coisa do Ulysses foi negativa. Ulysses foi um gênio político, o grande herói da democracia brasileira, sempre teve prestígio mil. Só teve um momento na vida dele que as coisas deram errado. Foi quando Sarney se elegeu e aí ele rachou a oposição. Porque o MDB estava no governo do Sarney e o Ulysses fazia oposição ao Sarney. No meio disso, teve a coisa triste da doença dele. Teve aqueles sofrimentos. E a imprensa e a oposição bateram muito nele... Então, o prestígio dele, que sempre foi mil, ali estava muito em baixa. E ele não teve a grandeza de ver.

O senhor se posicionou contra a candidatura de Ulysses?
Eu votei nele. Na eleição. Mas lá na convenção eu briguei pra que ele não fosse candidato, dizendo como amigo dele.

E houve aquela reunião com a presença de dona Mora (mulher de Ulysses)...
Ali nós fomos dizer pra fazer um candidato, pra ele indicar um nome. E ele ficou firme, voltamos lá pra reunião de todos os governadores e me disseram: "Então vai tu, Simon". Falei: "Vocês estão dizendo hoje pra eu ser candidato! Por que vocês não falaram ontem? Vocês me indicaram pra ir falar em nome de todo mundo, porque vocês disseram que Ulysses não tinha que ser candidato. E agora eu sou candidato?". Ele foi o candidato. A partir dali, com a derrota dele, nós íamos continuar, iríamos embora. Mas tiraram Ulysses da presidência (do PMDB), o Quércia assumiu a presidência e nunca mais fomos os mesmos.

Antes da convenção, ocorreu também o desentendimento de Ulysses com Waldir Pires.
Mas o Waldir terminou sendo vice dele. Waldir também achava que (Ulysses) não devia ser. O candidato ali pra nós era o Álvaro Dias. Engraçado que o candidato da Globo... Eu era o governador do Rio Grande do Sul e o Roberto Marinho me chamou lá, pra ele explicar por que achava que o Dr. Ulysses não podia ser candidato. Porque tinha o estigma da morte de Tancredo. Tancredo morreu com aquela idade. Então, velho não podia ser, porque o povo não aceitava. E aquela história do Ulysses estar em guerra com o Sarney... Naquela época, o candidato do Dr. Roberto era o Quércia. Governador, baita governador, e naquela época ainda não se falava nada dele.

Era um fenômeno eleitoral.
Ninguém falava daquele negócio de corrupção, veio tudo depois. Ali ele era o candidato. Ganhava. O outro era o Álvaro Dias. Até o Álvaro falava: tinha que ser um candidato novo, bonito... Ele até achava que era um candidato mais bonito que o Collor. E ele dizia que o Estado dele, pelo menos, era mais importante do que Alagoas. Mas aí perdeu. Quércia queria que eu fosse vice dele e eu disse pro Quércia: "Teu candidato deve ser o Ulysses (na presidência do PMDB)". Dos males de Dr. Ulysses... Era um homem excepcional, de qualidade, mas ele tinha um defeito doloroso: achava que ele tinha que ser o candidato a presidente. Não aceitava o Teotônio (Vilela), não aceitava o (Miguel) Arraes, não aceitava o Tancredo. O candidato era ele. E tudo que não era a candidatura dele, ele boicotava.

Aí eu disse pro Quércia: "Agora que ele não é mais candidato, pode ser um bom presidente e até articular sua candidatura". Quércia assumiu a presidência do PMDB e a imprensa batia muito... Na época da ditadura, Dr. Ulysses batia, batia, batia, mas não tinha nada pra dizer do velho Ulysses. Aí pegaram as coisas do Quércia, do governo, não sei do quê, e foi a desgraça. O MDB nunca mais deu volta.
Num provável governo Dilma, o PMDB criará dificuldades?
Dificuldade pra quê?

Pra Dilma, já que ela não tem a liderança política de Lula. Como o senhor imagina essa relação de seu partido com o governo?
Isso vai ser igual, não vai ser diferente. O MDB brigando pra ter mais cargos. E o PT que, cá entre nós - claro que é o partido da Dilma, mas é tão fisiológico quanto o PMDB-, também querendo cargos. O PCdoB... E a Dilma vai ter que ter competência pra escolher. Eu me lembro da época da Dilma, no ministério das Minas e Energia. Ela sustentou uma luta dura e fratricida com o Sarney, o grupo do PMDB e o PT, que queriam o comando dos cargos da Petrobras, essa coisa toda. E a Dilma brigando pra que ficassem os técnicos.

Quando ela foi ministra, não tem nenhuma dúvida, os cargos só foram dos técnicos. Mas quando ela largou o ministério, ela começou perdendo o substituto dela. Antes do Lobão, teve o Silas Rondeau, que foi indicado por Sarney, mas caiu fora. E mesmo assim Sarney indicou o (Edison) Lobão. O presidente do Banco do Brasil é do PT, o vice é do PMDB... Na diretoria da Petrobras, um é do PCdoB, outro é o MDB, não sei o quê... Os fundos de pensão estão todos aí. E isso com o Lula na presidência. Isso foi feito à revelia da Dilma.
O projeto do PT é formar uma hegemonia governista no Senado, pra ter o controle. E isso toca, especialmente, o senhor, que é um senador. Lula disse que apanhou mais do que Jesus Cristo no Senado, nos dois mandatos. O senhor avalia desse jeito?
Gostaria que ele dissesse... A única vez que ele perdeu no Senado foi no imposto sobre cheque para a Saúde (CPMF). Eu até liderei a favor dele. O problema é que ele levou muito tempo para discutir. Na hora que ele mandou uma carta, falei pra ele: "Vamos fazer uma carta pra não votar hoje e vamos sentar na mesa pra encontrar uma forma". Chegou na última hora, uma coisa muito engraçada... Foi a eleição para a escolha do presidente (do Senado). Eu era o candidato, tinha um abaixo-assinado da oposição, toda a oposição me indicando. Mas eu não aceitei, dentro do PMDB saiu o Sarney. E o Lula fez uma manifestação muito favorável ao Sarney pra presidente, dizendo que eu não era confiável. Aí eu fui pra tribuna. "Não sou candidato a presidente, não quero, não vou ser. Agora, o presidente da República dizer que o homem é o Sarney e que eu não sou confiável, quero saber o porquê. Lula esteve na minha casa, me convidou para ser ministro dele, eu não aceitei. Eu ia ser líder da bancada, eu ia até ser, até que aconteceu o episódio do Waldomiro e eu me afastei. Agora, por que eu não tenho a confiança?".

Mas ele se aproximou dessa gente. E, mesmo assim, no dia seguinte eu fui pra tribuna. Até recebi muita carta contra mim. Porque num dia eu vou lá esculhambar o Lula, porque ele disse que não tinha confiança em mim. E no dia seguinte eu vou lá pedir pra votar o imposto sobre cheque (risos), a CPMF. Eu tive que explicar ao povo. Fiz um terceiro discurso. O primeiro, por que Lula não confiava em mim. Fiz o segundo pra votar na CPMF, citei uma carta que o Lula mandou pra mim, a meu pedido mandou pra nós, pedindo mais uma semana de prazo, pra gente sentar na mesa. Ele se comprometia a usar o dinheiro definitivamente pra Saúde. Estava resolvido o problema. Aí nós perdemos.
Para usar um termo da moda, um senador "ficha limpa" não é confiável para os seus pares e para o governo? Lula disse que o senhor não era confiável, mas, ao mesmo tempo, sua imagem pública está vinculada a uma conduta ética.
Não sei. A minha reação, quando ele não demitiu o Waldomiro, e quando o Sarney arquivou a CPI e eu entrei no Supremo e ganhei... Isso ele não perdoou. Se ele analisar com calma, é a minha posição de sempre. Não mudei. Absolutamente não mudei. Se ele olhar no fundo, ali foi o grande momento do governo dele, que esteve a pique. Teve um momento que o PFL reuniu-se para pedir o impeachment do Lula. No mensalão, ele estava lá embaixo. Os caras do PFL me convidaram, porque no do Collor eu fui quem coordenou, dirigiu, comandou... Eles falando... Perguntaram o que eu achava. "Olha, eu sou um rábula, não sou jurista. Estou aqui pela iminência. Mas o senhores me desculpem. Os senhores me desculpem, mas pra pedir o impeachment não precisa de nenhum dos senhores. Eu vou ali na máquina, bato à máquina e peço o impeachment. É um processo político". Ali chegamos à conclusão de que, ao pedir o impeachment, o Lula viraria herói. Porque podia sair ou não sair. Se não fizessem, ele estava tão desgastado, que ele se apagava.

Lula tem razão em dizer que houve uma tentativa de golpe naquele episódio?
Não. Porque tinha motivo pra coisa. Mas não tinha motivo pra impeachment. Eu também achava que as coisas que estavam acontecendo eram pra ser punidas. Até eu dizia: os motivos da cassação do Collor foram infinitamente menores do que as coisas que aconteceram no mensalão do Lula. O Collor era o carro Elba que tinha comprado com o dinheiro do PC Farias, era a reforma na Casa da Dinda, que o PC Farias pagava com o cheque dele e eram os gastos da primeira-dama, que também eram pagos pelo secretário do PC Farias. Isso é miudeza perto das coisas que aconteceram no mensalão. Cassaram o primeiro presidente eleito no voto popular, Collor. Aí é eleito um líder trabalhador, vamos cassar de novo? Não era uma coisa boa.

Senador, um dos temas mais debatidos nesta eleição é o papel da imprensa na cobertura eleitoral. O PT, Lula e Dilma entraram em choque com jornais e revistas. Houve um ataque direto do presidente, num comício em Campinas. Como o senhor analisa o papel da imprensa na política?
Bom, pra Lula ser considerado Deus, com 80%, não é a televisão do Lula, que tem um traço de audiência... É a cobertura que a imprensa está dando. É o Jornal Nacional, é a imprensa que tem publicado as coisas que ele tem feito. Agora, a imprensa também tem publicado o outro lado. E ele parece que não gosta da crítica, só gosta do lado positivo. Não vejo nada de uma crise institucional, nem vejo ninguém, nem jornal, nem Estadão, nem Veja, nem partido político, tentando qualquer coisa institucional. Não tem perigo de coisa nenhuma. Então, eu acho que o presidente falar isso... Por isso, quando acontece, a oposição começa a bater na porta dos quartéis... Não vejo.

A mídia deveria declarar qual é seu candidato no período eleitoral, isso seria mais correto?
Nunca pensei nisso. O argumento do Lula é que, nos Estados Unidos, o jornal Tal defende a candidatura Tal. No fundo, no fundo, (o jornal) O Globo é simpático ao partido que está no governo (ri). Agora, querer que O Globo apoie um cara que tá na oposição? E se o cara da oposição perde, ele vai ficar apoiando? Eu acho que é exigir demais! (risos) E a Folha meio que bate em todo mundo. Não vejo, sinceramente.

Recentemente, o senhor se disse desanimado com a vida pública, com o nível do Congresso. Mantém esse desânimo?
Estou muito abatido. Porque, se tu notares, as grandes figuras foram saindo, como (Paulo) Brossard. Foram morrendo: Ulysses, Tancredo, Arraes, Montoro, Covas, Josaphat Marinho... Se tu olhares... Não vou nem falar. Se olhar quem entrou no lugar, quais são os homens hoje? Todos esses nomes que eu estou te falando... O Senado era isso. Não quero citar nomes, mas quem é o senador?

O senhor olha pra um lado, olha pro outro... Ainda tem com quem conversar?
Eu... Vim de uma época em que o meu grupo, que almoçava e jantava, era o Dr. Ulysses, o Dr. Tancredo, Covas, Montoro, Teotônio, Richa... Era esse grupo. Hoje eu almoço em casa e janto em casa. É muito raro. Eu vou conversar com quem?

O que houve? São Paulo pode eleger o palhaço Tiririca como o candidato mais votado. Houve uma despolitização da política, pra rebaixar tanto o Congresso?
Uma geração morreu. Outra, como a do Brossard, passou o tempo. E não veio uma geração pra substituir. E por que não veio? Isso foi um mal do Fernando Henrique. O Fernando Henrique não se preocupou em abrir portas pra essas figuras. O governo Fernando Henrique foi a coisa mais fantástica! O mesmo grupo do PMDB que governou com ele, governou com Lula.

Michel Temer, vice de Dilma, presidiu também a Câmara.
O mesmo grupo passou os anos fechadinho com Fernando Henrique, apoiou o Serra (em 2002), apoiou o (Geraldo) Alckmin (em 2006), e esse mesmo grupo fechou com o Lula. Isso aí. Está lá. E governaram do mesmo jeito. Uma vez eu tive uma conversa com D. Evaristo (Cardeal Arns) e eu disse: "O senhor é responsabilizado por ser o grande formulador da direção do PT. O senhor fez um movimento fantástico, da chamada comunidade de base, que aqui em São Paulo foi uma coisa sensacional, o movimento da Igreja se voltar para os pobres, para os humildes... Sensacional. E depois levou o PT pra dentro dessas comunidades. Foi onde nasceu o PT. E o senhor ensinou realmente as equipes do PT, foi espetacular. Mas o senhor não ensinou ao PT o que fazer quando chegasse no governo. O senhor só ensinou a oposição. No governo, é igual. O cara que ganhava pra fazer propaganda de rua, ganhava dez pilas por dia pra comer o lanche, pegou cinco mil, oito mil, e se acomodou. O senhor não ensinou a ser governo". E ele me respondeu: "É verdade. Mas aquele pessoal que estava ali, naquelas reuniões, era tão pura, tão digna, tão patriótica, que se eu tivesse que ordenar padre, eu ordenava todo mundo padre".

Estamos a poucos dias do dia 3 de outubro. Qual é agenda do senhor pra mobilizar e ajudar Marina a forçar um segundo turno, antes das eleições?
Marina e Fogaça! (risos)

Sim, e Fogaça...
O que eu pretendo fazer é insistir na importância do segundo turno. Pedir, principalmente, aos 50% que ainda não decidiram pra reparar: eles vão votar agora em cima de um processo eleitoral anárquico, onde o Lula participou mais do que não-sei-quem, com dez candidatos... Se tiver segundo turno, nós vamos ter dez dias pra esfriar a cabeça. E mais vinte dias. O eleitor não vai assistir em casa dez candidatos a presidente, trinta candidatos a senador, dois mil candidatos a deputado... Só vai assistir a duas pessoas: o candidato A e o candidato B. Aí ele vai ter vinte dias pra analisar, pra refletir e fazer a escolha.


3 comentários:

Anônimo disse...

Nada mais coerente: um laranja apoiando uma laranja-verde!

zan disse...

o véi termina sempre se entregando...

Anônimo disse...

Coitado do Simon deve estar gagá com esta ética seletiva.A corrupção,já denunciada pelo MPF,com um rombo de 40 milhões no Detran,não o fez deixar o gov. Yeda.O escândalo e roubo de milhões na CEEE, não o faz deixar de apoiar e defender membros do PMDB gaúcho.A Operação Solidária da PF envolve graduados do seu partido, e ele não se indignou.Inclusive divide a executiva estadual do Pmdb com eles.Ah! Simon, que dó dá ver um cara que os gaúchos acreditaram e que é um engodo.Ah! Simon,no Senado só és bom de discurso em frente as cameras de TV,no mais ficas dormindo, enganando e querendo pegar um trem que há muito perdestes.