Belo Horizonte (Minas Gerais) - Começou, por volta das 9h40 desta terça-feira, a audiência do ex-goleiro Bruno Fernandes na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Bruno foi convidado pela Comissão de Direitos Humanos da Casa para prestar esclarecimentos sobre a suposta tentativa de extorsão que ele e sua noiva, Ingrid Calheiros, teriam sofrido por parte da juíza de Esmeraldas, Maria José Starling, e pelo ex-advogado do jogador, Robson Pinheiro. Emocionado, o ex-goleiro chorou pouco antes da abertura da audiência.
Bruno chegou escoltado ao auditório da Assembleia, por volta das 9h30. Dez minutos depois, o deputado Durval Ângelo (PT-MG), presidente da Comissão de Direitos Humanos, deu início à audiência. Além de Bruno, estão presentes Ingrid e o advogado do jogador, Claudio Dalledone Júnior.
Bruno chegou escoltado ao auditório da Assembleia, por volta das 9h30. Dez minutos depois, o deputado Durval Ângelo (PT-MG), presidente da Comissão de Direitos Humanos, deu início à audiência. Além de Bruno, estão presentes Ingrid e o advogado do jogador, Claudio Dalledone Júnior.
Bruno chora durante audiência | Foto: Portal Terra
O primeiro a falar foi Dalledone, que apresentou à comissão supostos e-mails trocados entre a juíza e Ingrid que comprovariam a tentativa de extorsão, além do contrato de Pinheiro e outros documentos. Segundo Dalledone, a magistrada entrou em contato com Ingrid oferecendo um plano para soltar o ex-goleiro. De acordo a denúncia feita por Ingrid à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a juíza e Pinheiro teriam pedido R$ 1,5 mi para tirar Bruno da cadeia.
No depoimento prestado à Comissão de Direitos Humanos nesta terça-feira, Dalledone disse que, no final de 2011, Pinheiro chegou a dizer, em reunião com Bruno no presídio Nelson Hungria, em Contagem (MG), que já estava com o habeas-corpus prometido em mãos. "Ele disse para o Bruno: 'estou com o seu alvará na minha pasta'", disse Dalledone, que relatou ainda que o ex-advogado de Bruno exigia que o atleta assinasse o contrato de honorários que previa o pagamento de R$ 1,5 milhão.
Dalledone disse que, neste dia, alertou Bruno de que tudo não passava de uma trama de Pinheiro, que, a partir daí, teria começado a vigiar seu colega. Ainda de acordo com Dalledone, Pinheiro estipulou também, em outra cláusula do contrato, uma multa de R$ 1,5 milhão caso Bruno tivesse qualquer contato com seu colega sem a sua presença. "Ou eu compactuava, ou eu denunciava (o plano). Eu denunciei", disse Dalledone.
Na última semana de fevereiro, segundo o advogado, a noiva de Bruno chamou Dalledone até o Rio de Janeiro para relatar a tentativa de extorsão. No encontro, Dalledone ouviu relatos de que Pinheiro teria viajado até o Rio para procurar amigos de Bruno - tanto no círculo social quanto no Flamengo. Em seguida, o ex-advogado do atleta teria dito a Ingrid que precisava de um adiantamento de R$ 1,5 milhão. "O Robson teria falado para a Ingrid: 'preciso do R$ 1,5 milhão agora para garantir o habeas-corpus'", disse Dalledone.
Dalledone disse achar estranha a exigência porque o contrato de honorários não garante sucesso na causa. Questionado pelo deputado Durval Ângelo se Pinheiro estaria garantindo o sucesso na empreitada, o advogado foi enfático: "sim, (Robson estaria) contratualmente garantindo o êxito do habeas-corpus".
Ao saber do plano, Dalledone teria feito uma pesquisa junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) e descobriu, segundo ele, que Pinheiro nunca havia impetrado um habeas-corpus durante os seus mais de dez anos de carreira advocatícia. "Verifiquei inclusive que ele nem era criminalista", afirmou.
De acordo com Dalledone, Bruno sofre com o assédio constante de advogados. O defensor estima que entre cinco e dez advogados procurem o ex-jogador por semana no presídio. Durval Ângelo completou: "segundo informações da Secretaria de Defesa Social, todos os dias, pastores de igrejas evangélicas também tentam entrar no presídio para conversar com o Bruno". "As aves de rapina são religiosas e advocatícias", disse.
O caso Bruno
Eliza Samudio desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver.
Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.
As informações são de Ney Rubens, especial para o Terra
No depoimento prestado à Comissão de Direitos Humanos nesta terça-feira, Dalledone disse que, no final de 2011, Pinheiro chegou a dizer, em reunião com Bruno no presídio Nelson Hungria, em Contagem (MG), que já estava com o habeas-corpus prometido em mãos. "Ele disse para o Bruno: 'estou com o seu alvará na minha pasta'", disse Dalledone, que relatou ainda que o ex-advogado de Bruno exigia que o atleta assinasse o contrato de honorários que previa o pagamento de R$ 1,5 milhão.
Dalledone disse que, neste dia, alertou Bruno de que tudo não passava de uma trama de Pinheiro, que, a partir daí, teria começado a vigiar seu colega. Ainda de acordo com Dalledone, Pinheiro estipulou também, em outra cláusula do contrato, uma multa de R$ 1,5 milhão caso Bruno tivesse qualquer contato com seu colega sem a sua presença. "Ou eu compactuava, ou eu denunciava (o plano). Eu denunciei", disse Dalledone.
Na última semana de fevereiro, segundo o advogado, a noiva de Bruno chamou Dalledone até o Rio de Janeiro para relatar a tentativa de extorsão. No encontro, Dalledone ouviu relatos de que Pinheiro teria viajado até o Rio para procurar amigos de Bruno - tanto no círculo social quanto no Flamengo. Em seguida, o ex-advogado do atleta teria dito a Ingrid que precisava de um adiantamento de R$ 1,5 milhão. "O Robson teria falado para a Ingrid: 'preciso do R$ 1,5 milhão agora para garantir o habeas-corpus'", disse Dalledone.
Dalledone disse achar estranha a exigência porque o contrato de honorários não garante sucesso na causa. Questionado pelo deputado Durval Ângelo se Pinheiro estaria garantindo o sucesso na empreitada, o advogado foi enfático: "sim, (Robson estaria) contratualmente garantindo o êxito do habeas-corpus".
Ao saber do plano, Dalledone teria feito uma pesquisa junto ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF) e descobriu, segundo ele, que Pinheiro nunca havia impetrado um habeas-corpus durante os seus mais de dez anos de carreira advocatícia. "Verifiquei inclusive que ele nem era criminalista", afirmou.
De acordo com Dalledone, Bruno sofre com o assédio constante de advogados. O defensor estima que entre cinco e dez advogados procurem o ex-jogador por semana no presídio. Durval Ângelo completou: "segundo informações da Secretaria de Defesa Social, todos os dias, pastores de igrejas evangélicas também tentam entrar no presídio para conversar com o Bruno". "As aves de rapina são religiosas e advocatícias", disse.
O caso Bruno
Eliza Samudio desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.
No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.
Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver.
Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.
As informações são de Ney Rubens, especial para o Terra
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