Páginas

Add This

domingo, 11 de setembro de 2011

Basquete do Brasil enterra jejum de 15 anos e volta aos Jogos Olímpicos

Seleção bate a Dominicana na semifinal da Copa América, garante a vaga em Londres-2012 e põe na história o nome da geração comandada por Magnano

Por Rodrigo Alves Direto de Mar del Plata, Argentina
 
O mais rápido, o mais alto, o mais forte. Das três partes do lema olímpico, a primeira foi a que mais castigou o basquete masculino brasileiro. Não foi rápido. De 1996 para cá, o tempo se arrastou sem pressa. Durante 15 anos, afundados no sofá de casa, os jogadores viram pela televisão os Jogos de Sydney, Atenas e Pequim. Foi preciso que surgisse um sábado nublado em Mar del Plata, com frio de rachar e até cinzas de vulcão pairando no céu, para a história dar uma guinada. A vitória por 83 a 76 sobre a República Dominicana no ginásio Ilhas Malvinas enterra quase duas décadas de sofrimento. Em Londres-2012, nada de TV. Se seremos mais altos ou mais fortes, veremos daqui a um ano. Mas já dá para dizer com todas as letras: o Brasil está de volta às Olimpíadas.

Após três Pré-Olímpicos frustrantes, a seleção cumpriu sua missão na Argentina. Venceu a semifinal e garantiu uma das duas vagas para Londres. Sob o comando de Rubén Magnano, os 12 heróis que acabam de se inscrever na história do basquete nacional atendem pelos nomes de Huertas, Alex, Marquinhos, Giovannoni, Splitter, Machado, Hettsheimeir, Benite, Luz, Augusto, Nezinho e Caio Torres.  Feito que tem sabor ainda mais especial para Marcelinho Machado, que desde 1999 tentava colocar o "olímpico" no currículo. Neste sábado, o ala de 36 anos deixou o banco de reservas para dar uma preciosa contribuição. Foi o cestinha com 20 pontos.

- Representa muita coisa conseguir essa vaga. A gente buscava, trabalhava muito para conseguir isso e não vinha. Mas este ano treinamos muito, abdicamos de um monte de coisas para chegar num momento como esse. É indescritível. Não é questão de tirar o peso, mas de conseguir um objetivo pelo qual batalhamos muito - chorava Machado.

“Olé, olé, olé, olé, Rubén, Rubén”. O grito da torcida argentina antes do jogo, homenagem ao homem que lhe deu um ouro olímpico, bem que podia ser dos brasileiros que estavam bem longe dali. Foi Magnano o técnico que operou uma revolução no basquete nacional. No Mundial de 2010, fez o time jogar melhor, mas esbarrou na incapacidade de definir jogos difíceis. Trauma mais do que superado em Mar del Plata. Além de bater a Argentina na segunda fase, a seleção atropelou Porto Rico e agora derruba a Dominicana, que vai ter de disputar a vaga na repescagem mundial do ano que vem.
 

O jogo

Tirando a homenagem a Rubén, a torcida era toda contra o Brasil. E ficou ainda mais intensa quando os brasileiros levaram dois tocos logo no início da partida: Baez em Huertas, Horford em Splitter. O placar chegou a 9 a 4, mas Martínez levava vantagem sobre Tiago, e Magnano se apressou em substituí-lo por Hettsheimeir. Foi o pivô de 25 anos que, com o cronômetro já zerado e sob fortes vaias, acertou um lance livre e colocou a equipe à frente no fim do primeiro quarto: 18 a 17.

No segundo quarto, a Dominicana voltou forte. Martínez forçou a terceira falta de Splitter e obrigou Magnano a lançar Caio Torres, que pouco vinha jogando no torneio. No lance livre, o pivô caribenho colocou sua seleção à frente pela primeira vez. Era no garrafão que o Brasil sofria, mas Machado compensava nos chutes de fora. Na saída para o vestiário, vantagem curta e prenúncio de drama: 39 a 36.

Na volta, a diferença chegou a cinco, mas o drama se confirmou. Pelas mãos de Al Horford, ficou tudo igual. Machado e Hettsheimeir trataram de subir de novo para cinco, Marquinhos ampliou para oito, mas Martínez não desistia. Incansável, trombava embaixo da cesta feito um touro. Na raça, cortou para três, mas na virada para o último quarto, graças a Huertas, o placar pulou para 62 a 55. Àquela altura, o garrafão verde-amarelo, no entanto, sofria com o excesso de faltas: Hettsheimeir tinha quatro, Splitter, Giovannoni e Marquinhos tinham três cada. Apesar do sufoco, apenas dez minutos de basquete separavam a seleção de Londres.

Rafael Hettsheimer basquete Brasil x República Dominicana (Foto: EFE) 
Rafael Hettsheimeir mostrou vontade na partida que valia a vaga nos Jogos de Londres (Foto: EFE)
 
Os dominicanos não se entregavam. Perseguiam os brasileiros por toda a quadra. Mas ainda assim era possível encontrar uma brechinha da linha dos três. Com uma certeira, Caio Torres abriu 66 a 57. Alex também fez a sua. O pecado veio depois. Desperdiçou um contra-ataque com uma andada flagrada pela arbitragem. Levou as mãos à cabeça. Não havia tempo para reclamar ou lamentar. Marcelinho Machado sabia disso e tratou de consertar tudo. Com um chute longo fez tudo se acalmar (72 a 62). O Brasil vibrava. Ainda restavam cinco minutos.

Ronald Ramon ainda acreditava. E tratava de diminuir a frente. Al Horford fazia o mesmo e ainda tirava Guilherme Giovannoni do jogo, com cinco faltas (76 a 72). Dois lances livres de Marquinhos davam uma folga de seis pontos. Restando 1m40s, nova baixa. Hettsheimeir cometeu a quinta falta. Al Horford converteu mais um pontinho e, para felicidade da seleção, falhou na segunda tentativa. Os olhares já se voltavam para o cronômetro. Marcelo Huertas cadenciava o jogo. E partia para a cesta na hora certa. Mais dois pontos, sete de vantagem. Só faltavam 49 segundos....

Magnano mantinha o semblante calmo. Parecia saber o que estava para acontecer. Ramon seguia infernizando a vida do Brasil, fazendo mais uma de três. A 20s do fim, Huertas foi para a linha do lance livre. Converteu os dois. Era preciso uma defesa forte. Foi o que fizeram. Os dominicanos erraram e ainda fizeram falta em Marcelinho Machado. A essa altura Magnano já comemorava. A missão estava cumprida. O Brasil estava de volta aos Jogos Olímpicos. A festa e o choro estavam liberados.

GloboEsporte

Nenhum comentário: