Seleção bate a Dominicana na semifinal da Copa América, garante a vaga em Londres-2012 e põe na história o nome da geração comandada por Magnano
O mais rápido, o mais alto, o mais forte. Das três partes do lema
olímpico, a primeira foi a que mais castigou o basquete masculino
brasileiro. Não foi rápido. De 1996 para cá, o tempo se arrastou sem
pressa. Durante 15 anos, afundados no sofá de casa, os jogadores viram
pela televisão os Jogos de Sydney, Atenas e Pequim. Foi preciso que
surgisse um sábado nublado em Mar del Plata, com frio de rachar e até
cinzas de vulcão pairando no céu, para a história dar uma guinada. A
vitória por 83 a 76 sobre a República Dominicana no ginásio Ilhas
Malvinas enterra quase duas décadas de sofrimento. Em Londres-2012, nada
de TV. Se seremos mais altos ou mais fortes, veremos daqui a um ano.
Mas já dá para dizer com todas as letras: o Brasil está de volta às
Olimpíadas.
Após três Pré-Olímpicos frustrantes, a seleção cumpriu sua missão na
Argentina. Venceu a semifinal e garantiu uma das duas vagas para
Londres. Sob o comando de Rubén Magnano, os 12 heróis que acabam de se
inscrever na história do basquete nacional atendem pelos nomes de
Huertas, Alex, Marquinhos, Giovannoni, Splitter, Machado, Hettsheimeir,
Benite, Luz, Augusto, Nezinho e Caio Torres. Feito que tem sabor ainda
mais especial para Marcelinho Machado, que desde 1999 tentava colocar o
"olímpico" no currículo. Neste sábado, o ala de 36 anos deixou o banco
de reservas para dar uma preciosa contribuição. Foi o cestinha com 20
pontos.
- Representa muita coisa conseguir essa vaga. A gente buscava,
trabalhava muito para conseguir isso e não vinha. Mas este ano treinamos
muito, abdicamos de um monte de coisas para chegar num momento como
esse. É indescritível. Não é questão de tirar o peso, mas de conseguir
um objetivo pelo qual batalhamos muito - chorava Machado.
“Olé, olé, olé, olé, Rubén, Rubén”. O grito da torcida argentina antes
do jogo, homenagem ao homem que lhe deu um ouro olímpico, bem que podia
ser dos brasileiros que estavam bem longe dali. Foi Magnano o técnico
que operou uma revolução no basquete nacional. No Mundial de 2010, fez o
time jogar melhor, mas esbarrou na incapacidade de definir jogos
difíceis. Trauma mais do que superado em Mar del Plata. Além de bater a
Argentina na segunda fase, a seleção atropelou Porto Rico e agora
derruba a Dominicana, que vai ter de disputar a vaga na repescagem
mundial do ano que vem.
O jogo
Tirando a homenagem a Rubén, a torcida era toda contra o Brasil. E
ficou ainda mais intensa quando os brasileiros levaram dois tocos logo
no início da partida: Baez em Huertas, Horford em Splitter. O placar
chegou a 9 a 4, mas Martínez levava vantagem sobre Tiago, e Magnano se
apressou em substituí-lo por Hettsheimeir. Foi o pivô de 25 anos que,
com o cronômetro já zerado e sob fortes vaias, acertou um lance livre e
colocou a equipe à frente no fim do primeiro quarto: 18 a 17.
No segundo quarto, a Dominicana voltou forte. Martínez forçou a
terceira falta de Splitter e obrigou Magnano a lançar Caio Torres, que
pouco vinha jogando no torneio. No lance livre, o pivô caribenho colocou
sua seleção à frente pela primeira vez. Era no garrafão que o Brasil
sofria, mas Machado compensava nos chutes de fora. Na saída para o
vestiário, vantagem curta e prenúncio de drama: 39 a 36.
Na volta, a diferença chegou a cinco, mas o drama se confirmou. Pelas
mãos de Al Horford, ficou tudo igual. Machado e Hettsheimeir trataram de
subir de novo para cinco, Marquinhos ampliou para oito, mas Martínez
não desistia. Incansável, trombava embaixo da cesta feito um touro. Na
raça, cortou para três, mas na virada para o último quarto, graças a
Huertas, o placar pulou para 62 a 55. Àquela altura, o garrafão
verde-amarelo, no entanto, sofria com o excesso de faltas: Hettsheimeir
tinha quatro, Splitter, Giovannoni e Marquinhos tinham três cada. Apesar
do sufoco, apenas dez minutos de basquete separavam a seleção de
Londres.
Rafael Hettsheimeir mostrou vontade na partida que valia a vaga nos Jogos de Londres (Foto: EFE)
Os dominicanos não se entregavam. Perseguiam os brasileiros por toda a
quadra. Mas ainda assim era possível encontrar uma brechinha da linha
dos três. Com uma certeira, Caio Torres abriu 66 a 57. Alex também fez a
sua. O pecado veio depois. Desperdiçou um contra-ataque com uma andada
flagrada pela arbitragem. Levou as mãos à cabeça. Não havia tempo para
reclamar ou lamentar. Marcelinho Machado sabia disso e tratou de
consertar tudo. Com um chute longo fez tudo se acalmar (72 a 62). O
Brasil vibrava. Ainda restavam cinco minutos.
Ronald Ramon ainda acreditava. E tratava de diminuir a frente. Al
Horford fazia o mesmo e ainda tirava Guilherme Giovannoni do jogo, com
cinco faltas (76 a 72). Dois lances livres de Marquinhos davam uma folga
de seis pontos. Restando 1m40s, nova baixa. Hettsheimeir cometeu a
quinta falta. Al Horford converteu mais um pontinho e, para felicidade
da seleção, falhou na segunda tentativa. Os olhares já se voltavam para o
cronômetro. Marcelo Huertas cadenciava o jogo. E partia para a cesta na
hora certa. Mais dois pontos, sete de vantagem. Só faltavam 49
segundos....
Magnano mantinha o semblante calmo. Parecia saber o que estava para
acontecer. Ramon seguia infernizando a vida do Brasil, fazendo mais uma
de três. A 20s do fim, Huertas foi para a linha do lance livre.
Converteu os dois. Era preciso uma defesa forte. Foi o que fizeram. Os
dominicanos erraram e ainda fizeram falta em Marcelinho Machado. A essa
altura Magnano já comemorava. A missão estava cumprida. O Brasil estava
de volta aos Jogos Olímpicos. A festa e o choro estavam liberados.
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