POR PAULA SARAPU
Rio - Aluno do Curso de Ações Táticas (CAT) do Batalhão de Operações Especiais (Bope), o soldado da Polícia Militar Eduardo Marcello Medeiros dos Santos, 28 anos, morreu ontem de madrugada, depois de passar mal durante a aula inaugural. Lotado no 24º BPM (Queimados), Eduardo tinha o sonho de ingressar na tropa de elite da PM e foi um dos dez melhores colocados no processo de seleção para o CAT.
A esposa do jovem policial militar morto abraça a mãe da vítima na porta do Instituto Médico Legal (IML)
Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
O soldado e três colegas tiveram sintomas de desidratação e foram levados ao Hospital Central da PM. Eduardo apresentou quadro de insuficiência renal e sofreu convulsões. Ele será enterrado hoje, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap.
O PM sentiu tonturas na tarde de segunda-feira durante a primeira instrução sobre tática individual, em que eram feitos exercícios de progressão, como rastejo, corrida e transposição de obstáculos. O treinamento dos 50 alunos era acompanhado por paramédicos, que fizeram o primeiro atendimento e encaminharam os quatro policiais que passaram mal ao hospital.
Segundo o comandante do Bope, tenente-coronel Paulo Henrique Moraes, Eduardo, que estava há cinco anos na PM, passou por exames médicos e psicológicos durante o processo seletivo e todos os resultados foram normais.
A viúva do soldado, Maria Ondina Marques Oliveira, 30, contou que, durante a seleção, o marido fez exames clínicos, de sangue, urina e fezes, raio-X de tórax, eco e eletrocardiogramas e teste de esforço no Hospital da PM e em clínicas particulares.
Segundo ela, Eduardo nunca apresentou problemas de saúde. Abalada, Maria Ondina espera que o exame cadavérico do Instituto Médico-Legal revele a causa da morte. O resultado deve ficar pronto em até 30 dias. O Bope abriu averiguação sumária para apurar o caso.
“Entreguei meu marido bem no domingo e hoje (ontem) acordei com essa notícia. Esperava ouvir que ele tinha sido morto em um confronto ou num acidente de carro numa perseguição, mas jamais por problemas renais. Ele nunca teve nada, tanto que só levou remédios para dores musculares”, disse ela, que cuidará do filho de três anos do casal. “Ele ficaria 40 dias incomunicável, mas ontem (segunda) senti uma angústia e tentei ligar para ele, mas não consegui”, lamentou.
Segundo o relações-públicas do Bope, capitão Ivan Blaz, Eduardo sentiu tonturas nas primeiras três horas de atividades físicas, na sede do batalhão, antes de uma corrida de 10 quilômetros no Aterro do Flamengo até a Urca. Ele quis voltar para a instrução, após ser atendido por paramédicos, mas foi encaminhado ao hospital. Os outros três alunos ficaram em observação até a tarde de ontem.
Oficial alerta para excessos
Segundo o tenente-coronel Paulo Henrique, já houve casos de alunos que passaram mal em atividades muito intensas pelo uso de guaraná em pó em excesso e até creatina animal. Tudo para ter mais energia para suportar o desgaste físico.
“Em nossas instruções, nos cursos do Bope ou de formação de soldados, fazemos um trabalho de conscientização de que não há necessidade de usar essas substâncias. Fizemos uma pesquisa laboratorial com outros alunos que se sentiram mal em atividades físicas e identificamos que muitos usam estimulantes e suplemento alimentar às vésperas dos exercícios de esforço, sem orientação médica ou de forma exagerada, causando reações adversas no corpo”, contou o oficial.
Esforço pode provocar distúrbio
Médicos especialistas em sistema urinário alertam para distúrbio chamado rabdomiólise, quando o músculo, danificado, libera a substância mioglobina e pode causar insuficiência renal. Esse distúrbio, garantes os nefrologistas, pode ser causado por esforço intenso aliado à desidratação ou pelo uso de estimulantes.
Em 2002, o tenente Renato César Targa, que tentava ingressar no Bope participando do Curso de Operações Especiais (Coesp), morreu de hipotermia. Ele ficou 12 horas dentro da água na represa de Ribeirão das Lajes, em Piraí, no Sul Fluminense.
Portas de entrada
Ações táticas
O Curso de Ações Táticas (CAT) é a porta de entrada ‘mais fácil’ no Bope.
Os aprovados ingressam na tropa de elite, mas não se tornam ‘caveiras’, exclusividade de quem conclui o Curso de Operações Especiais (Coesp).
As instruções têm duração de 40 dias de aulas teóricas, exercícios físicos e treinos específicos.
Os alunos não são privados de comida e bebida, como no Coesp, e podem usar soro e repositores isotônicos acoplados ao colete durante as atividades.
Os formados são aptos a participar de atividades como resgate de reféns
Operações especiais
Para se tornar um ‘caveira’, é preciso passar pelo Curso de Operações Especiais (Coesp).
Nos 6 meses de curso, os policiais são mantidos incomunicáveis — não podem falar nem com família.
Após avaliações médica, social e psicológica, os alunos vão para o campo de treinamento em Ribeirão das Lajes.
Lá, passam pela ‘semana do inferno’, onde são submetidos a duros testes de esforço físico e mental.
‘Sobreviventes’ passam, então, a aulas de tiro, mergulho, rapel, negociação, explosivos, gerenciamento de risco, entre outras.
Fonte O Dia Online
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